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A importância do advogado compreender seus clientes além dos livros e da lei

A importância do advogado compreender seus clientes além dos livros e da lei

Por Dra Rosangela Almeida do escritório Montañés Albuquerque Advogados e Cone Sul Marcas e Patentes

A prática da advocacia requer uma combinação de conhecimento técnico, habilidades analíticas e, crucialmente, uma compreensão profunda das pessoas. Embora o domínio das leis, doutrinas e jurisprudências seja a base do trabalho jurídico, o verdadeiro sucesso de um advogado muitas vezes depende de sua capacidade de entender seus clientes de maneira holística, sendo esse aspecto muitas vezes negligenciado, em que pese vital, para a compreensão profunda dos clientes, indo além das leis e dos livros. O advogado que consegue estabelecer uma conexão genuína e empática com seus clientes oferece não apenas um serviço jurídico, mas também um suporte humano, fundamental para o sucesso do caso e para a confiança no relacionamento advogado-cliente.

Isso significa considerar aspectos emocionais, culturais, sociais e até psicológicos que influenciam o comportamento e as decisões dos clientes. Neste artigo, exploraremos como essa compreensão além do jurídico pode impactar positivamente a atuação do advogado, ilustrando com exemplos práticos.

A humanização da relação advogado-cliente

O direito é, em sua essência, uma ciência social aplicada. Ele lida com pessoas, com suas vidas, suas expectativas, medos e aspirações. Cada cliente traz consigo uma história única, um contexto específico e motivações próprias que vão além dos aspectos jurídicos de seu caso. Ao compreender essas nuances, o advogado é capaz de oferecer soluções jurídicas mais adequadas e personalizadas, que realmente atendem às necessidades e expectativas de seu cliente. 

A humanização do relacionamento advogado-cliente envolve escuta ativa, empatia e comunicação clara. O advogado deve ser capaz de se colocar no lugar do cliente, entender suas preocupações e medos, e transmitir confiança e segurança. Essa abordagem não só fortalece o vínculo de confiança, mas também pode ser determinante para o sucesso da estratégia jurídica adotada.

A conexão humana como pilar da advocacia

No âmago de qualquer relação advogado-cliente está a confiança. Sem confiança, o cliente pode não ser totalmente honesto, ocultando informações cruciais ou mesmo questionando as orientações do advogado. A construção dessa confiança começa com a capacidade do advogado de estabelecer uma conexão humana genuína.

Por exemplo, imagine um cliente envolvido em um processo de divórcio litigioso. Além das questões legais como divisão de bens e guarda dos filhos, esse cliente pode estar lidando com sentimentos de perda, medo do futuro e até vergonha. Um advogado que apenas aborda o caso de maneira técnica pode perder sinais importantes sobre o que é realmente prioritário para o cliente. Ao compreender o estado emocional do cliente, o advogado pode, por exemplo, sugerir soluções de mediação em vez de um litígio prolongado, que poderia agravar o estresse emocional.

A importância da empatia e da comunicação

A empatia é uma habilidade indispensável para qualquer advogado que deseje ir além do simples exercício técnico da advocacia. Quando um advogado se coloca no lugar do cliente, ele consegue entender melhor as implicações emocionais e práticas de cada decisão jurídica. Isso permite que ele ofereça aconselhamentos mais precisos e humanos, além de fortalecer a relação de confiança, que é fundamental para o bom andamento do processo. 

A comunicação clara é outro pilar fundamental. Muitas vezes, o jargão jurídico pode ser intimidante e confuso para quem não tem formação na área. Um advogado que consegue traduzir termos e conceitos complexos de maneira acessível contribui para que o cliente se sinta mais seguro e informado sobre seu próprio caso, o que é crucial para a tomada de decisões informadas.

A empatia em situações de vulnerabilidade

A empatia é particularmente crucial quando os clientes estão em situações de vulnerabilidade, como em casos de violência doméstica, disputas familiares ou litígios envolvendo crianças. Nesses contextos, o advogado não é apenas um técnico do direito, mas também um porto seguro, alguém em quem o cliente deve confiar para proteger seus interesses e seu bem-estar. 

Considere o caso de uma mãe que busca a custódia exclusiva de seus filhos devido a um histórico de violência doméstica. Além de dominar as leis pertinentes à guarda e à proteção da vítima, o advogado precisa compreender o trauma que essa mãe vivenciou e como isso pode influenciar suas decisões. 

Por exemplo, ela pode estar disposta a abrir mão de direitos financeiros em troca da custódia, uma escolha que um advogado sem empatia pode considerar imprudente. No entanto, ao entender a profundidade do medo e da necessidade de segurança dessa mãe, o advogado pode adotar uma estratégia que priorize sua proteção emocional e física, ao mesmo tempo em que busca garantir seus direitos financeiros de forma equilibrada.

Conhecimento cultural e social: um diferencial estratégico

O direito não existe em um vácuo; ele é aplicado em contextos sociais, culturais e econômicos específicos. Portanto, é essencial que o advogado compreenda o ambiente em que seu cliente está inserido. Isso inclui entender as pressões sociais, culturais e econômicas que podem influenciar as expectativas e decisões do cliente. 

Por exemplo, um advogado que representa uma comunidade tradicional em uma disputa territorial deve entender não apenas os aspectos jurídicos da propriedade, mas também o valor cultural e histórico daquela terra para seus clientes. Esse conhecimento permitirá que o advogado adote uma abordagem mais sensível e eficaz, que respeite e valorize o contexto único de seus clientes.

O conhecimento do contexto cultural e social do cliente pode ser um diferencial estratégico, especialmente em casos que envolvem comunidades minoritárias ou disputas que envolvem questões culturais. Um exemplo relevante pode ser encontrado em disputas envolvendo comunidades indígenas ou tradicionais, onde o advogado deve entender não apenas as leis que regem a propriedade ou os direitos territoriais, mas também o valor simbólico e cultural das terras em disputa. 

Imagine um caso em que uma comunidade indígena está lutando para preservar seu território contra a exploração de recursos naturais por uma grande corporação. Um advogado que desconhece a importância espiritual e cultural daquela terra para a comunidade pode optar por uma abordagem estritamente legalista, focando em argumentos sobre a propriedade. 

Contudo, ao entender o significado daquela terra para a identidade e a sobrevivência cultural da comunidade, o advogado pode construir uma estratégia jurídica que também inclua argumentos baseados em direitos humanos e ambientais, aumentando as chances de sucesso.

A psicologia aplicada à advocacia

A compreensão do comportamento humano também é uma ferramenta poderosa na advocacia. Advogados que entendem princípios básicos de psicologia podem interpretar melhor as ações de seus clientes e antecipar as reações das partes adversas. Por exemplo, em uma negociação de um acordo, um advogado com conhecimento psicológico pode identificar quando a outra parte está sob pressão ou emocionalmente vulnerável, e usar isso para negociar condições mais favoráveis para seu cliente. 

Além disso, em litígios criminais, o conhecimento da psicologia do cliente pode ser determinante para a escolha de uma defesa eficaz. Por exemplo, ao representar um réu acusado de um crime motivado por uma doença mental, o advogado deve compreender a condição psicológica de seu cliente para argumentar a favor de uma pena reduzida ou tratamento em vez de encarceramento.

Exemplo de caso real: a defesa de casos de abuso sexual

Casos de abuso sexual são um exemplo extremo, mas revelador, da importância de se entender o cliente além dos livros e da lei. As vítimas de abuso sexual enfrentam uma série de desafios emocionais e psicológicos que podem influenciar profundamente o processo jurídico. Um advogado que ignora esses aspectos pode, inadvertidamente, revitimizar o cliente, ao forçá-lo a reviver o trauma repetidamente ou ao não reconhecer sinais de estresse pós-traumático que podem afetar a capacidade do cliente de testemunhar. 

Por outro lado, um advogado que entende o impacto psicológico do abuso sexual pode adaptar suas estratégias de acordo, por exemplo, evitando confrontações desnecessárias durante o depoimento ou preparando o cliente para os desafios emocionais que podem surgir durante o processo. Esse nível de sensibilidade pode não apenas proteger o bem-estar da vítima, mas também fortalecer o caso jurídico, ao garantir que o cliente esteja psicologicamente preparado para enfrentar o processo.

Conclusão: A advocacia como prática integrada

A advocacia eficaz exige mais do que conhecimento técnico. Exige uma compreensão integrada do ser humano e das complexidades que cada caso traz consigo. Ao olhar além dos livros e da lei, o advogado pode oferecer um serviço verdadeiramente completo, que não só busca a justiça no sentido legal, mas também no sentido humano. 

Essa abordagem integrada e humanizada não só beneficia os clientes, mas também eleva a prática da advocacia, tornando-a uma profissão que verdadeiramente serve à sociedade em todas as suas dimensões. 

A prática da advocacia vai além da aplicação técnica das leis. Um advogado que se limita a essa abordagem perde a oportunidade de realmente compreender e atender às necessidades de seus clientes. Ao entender seus clientes além dos livros e da lei, o advogado não só aprimora sua prática profissional, mas também contribui para uma justiça mais humana e eficiente. 

Em última análise, o sucesso na advocacia não é medido apenas pelo número de vitórias em tribunal, mas pela capacidade de resolver os problemas dos clientes de maneira que respeite suas individualidades e contexto. O advogado que adota essa visão integral e humanizada certamente fará a diferença na vida de seus clientes e na sociedade como um todo.

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